A resposta a esta pergunta não é tão simples e os teólogos se dividem em pelo menos três opiniões diferentes.
Pois assim como Jonas esteve três dias e três noites no ventre de um grande peixe, assim o Filho do homem ficará três dias e três noites no coração da terra (Mateus 12:40).
As três hipóteses apresentadas são:
- Jesus morreu na quarta-feira;
- Jesus morreu na sexta-feira (contagem inclusiva);
- Jesus morreu na sexta-feira (contagem espiritualizada);
Jesus morreu na quarta-feira
A primeira hipótese que defende a ideia de que Jesus teria morrido na quarta-feira, desconsidera a tradição e compreende o texto literalmente, ou seja, que Jesus ficou três dias completos e três noites completas no sepulcro.
Outros textos bíblicos usados para defender essa hipótese são:
Então ele começou a ensinar-lhes que era necessário que o Filho do homem sofresse muitas coisas e fosse rejeitado pelos líderes religiosos, pelos chefes dos sacerdotes e pelos mestres da lei, fosse morto e três dias depois ressuscitasse (Marcos 8:31).
Jesus lhes respondeu: “Destruam este templo, e eu o levantarei em três dias“. Os judeus responderam: “Este templo levou quarenta e seis anos para ser edificado, e o senhor vai levantá-lo em três dias? ” Mas o templo do qual ele falava era o seu corpo (João 2:19-21).
Uma das argumentações importantes dessa linha é que a Bíblia nunca disse que foi uma sexta-feira, mas que o dia seguinte era um sábado. Portanto, para qualquer pessoa do ocidente o dia anterior ao sábado era sexta-feira. Contudo, para os judeus não é bem assim. A palavra sábado ou שַׁבָּת (šabbāt) significa parar, desistir, descansar. Sendo assim, qualquer feriado para um judeu é considerado um sábado (šabbāt). Os judeus possuem vários tipos de “sábado”, ou seja,
- semanal, o sétimo dia da semana;
- mensal, as festas da lua nova;
- anual, festas fixas, os feriados;
e para cada oferecimento dos holocaustos do Senhor, nos sábados, nas Festas da Lua Nova e nas festas fixas, perante o Senhor, segundo o número determinado; (1 Crônicas 23:31)
Eis que estou para edificar a casa ao nome do Senhor, meu Deus, e lha consagrar, para queimar perante ele incenso aromático, e lhe apresentar o pão contínuo da proposição e os holocaustos da manhã e da tarde, nos sábados, nas Festas da Lua Nova e nas festividades do Senhor, nosso Deus; o que é obrigação perpétua para Israel (2 Crônicas 2:4)
Ninguém, pois, vos julgue por causa de comida e bebida, ou dia de festa, ou lua nova, ou sábados (Colossenses 2:16)
Como a Páscoa era celebrada no dia 14 de Abibe ou Nisã todos os anos, no dia 15 iniciava a Festa dos Pães Asmos (no tempo de Jesus, logo depois de comer a páscoa com seus discípulos, na noite que começava o 14 de abibe, como disse o Senhor através de Moisés). Depois disso, Jesus foi com seus discípulos ao Jardim Getsêmani (no Monte das Oliveiras). Ele poderia ter ido a qualquer outro lugar, mas Ele foi ao jardim do Getsêmani. O nome Getsêmani significa prensa de óleo, é de onde tiram o azeite das azeitonas. Na prensa de azeite se colocam as azeitonas e elas são machucadas, pressionadas e amassadas até sair o óleo. Jesus foi ao Getsêmani e ali foi apertado e suou sangue, e este sangue é o óleo que saiu Dele que nos limpa do pecado. Então na madrugada de 14 de abibe, Ele foi preso, julgado e condenado. Às 9 horas da manhã ele foi cravado no madeiro, e isso tão pouco foi casualidade, pois tinha que ser assim. Nesta mesma hora no templo, os levitas amarravam o cordeiro pascal que iam sacrificar no altar de sacrifício. Na mesma hora que estava o sacerdote no templo amarrando o cordeirinho, estavam crucificando o Senhor no madeiro do Calvário exatamente na mesma hora, às 3 horas da tarde do dia 14 de abibe o Senhor morreu. Mas antes de morrer Ele disse, João 19:30 “… está consumado. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito.” E também não foi casualidade, às 3 da tarde o sumo sacerdote estava degolando o cordeirinho no templo e estava dizendo: “está consumado”. Então, enquanto o sumo sacerdote estava no altar dizendo “está consumado”, Jesus Sumo Sacerdote dos bens futuros, estava dizendo no monte Moriá, no madeiro do Calvário, no altar de sacrifício do Gólgota, “está consumado”.
Imediatamente depois do dia da Páscoa começa a semana dos pães asmos. O primeiro dia dos pães asmos é considerado shabat no judaísmo, mas como é o primeiro dia de uma festa, é considerado mais que um šabbāt, é considerado um grande šabbāt, ou seja, um dia de grande solenidade. Por isso, eles tinham que se apressar a sepultar a Jesus, por conta do grande šabbāt, o grande šabbāt começava no pôr do sol até o outro dia ao pôr do sol. Então, o corpo de Jesus foi colocado na tumba ao final do entardecer de 14 de Abibe, era o começo da festa dos pães asmos, 15 de Abibe. Jesus celebrou a páscoa com os seus discípulos na noite quando começa o dia 14 de abibe; na madrugada foi julgado; às 9 horas da manhã foi colocado na cruz; e, às 3 horas da tarde Ele morreu, dizendo “está consumado”, entregando o espírito. Jesus disse que estaria no seio da terra três dias e três noites como Jonas esteve no ventre do grande peixe, Mateus 12:40 “pois, como Jonas esteve três dias e três noites no ventre do grande peixe, assim estará o Filho do homem três dias e três noites no seio da terra.” Esse período é muito importante no contexto judáico, porque o judaísmo considerava que só depois de três dias é que uma pessoa estava verdadeiramente morta. Antes disso, podia ser casualidade, mas depois de três dias e três noites a pessoa estava morta, não tinha alternativa. Isso se cumpriu em sua totalidade em Jesus.
Usando o calendário que nós usamos hoje em dia ficaria assim: (tenha em mente que no calendário bíblico o pôr do sol indica o término de um dia completo, iniciando outro) a noite de quarta-feira (15 de abibe) foi a primeira noite; a manhã de quinta-feira (15 de abibe) foi o primeiro dia; a noite de quinta-feira (16 de abibe) foi a segunda noite; a manhã de sexta-feira (16 de abibe) foi o segundo dia; a noite de sexta-feira (17 de abibe) foi a terceira noite; e, a manhã de sábado (17 de abibe) foi o terceiro dia. Ao pôr do sol em 17 de abibe conclui o shabbat semanal e começava o primeiro dia da semana, e este primeiro dia da semana é por sua vez, segundo o calendário bíblico, o começo da festa de primícias (habikkurim), a festa dos primeiros frutos. Jesus ressuscita como primícias para Deus no primeiro dia da semana, 18 de abibe. Vamos traduzir essas datas para o calendário atual:
1 Coríntios 15:20 “Mas na realidade Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, sendo ele as primícias dos que dormem.” Jesus foi feito primícias para Deus Pai, de maneira que sendo feito assim Jesus cumpre perfeitamente o sinal de Jonas mostrando a Israel e ao mundo, que Ele é quem disse que era, que Ele não é um impostor e que Ele foi o Messias, é o Messias e será o Messias, o Alpha e Ômega, o princípio e o fim.
Resumindo, essa primeira hipótese afirma que se Cristo disse que estaria três dias e três noites no seio da terra, então Ele esteve três dias e três noites no seio da terra. E já que ele ressuscitou no primeiro dia da semana, que é domingo, então Ele não morreu na sexta-feira, mas sim, na quarta-feira, para ficar 72 horas no seio da terra.
Jesus morreu na sexta-feira (contagem inclusiva)
A segunda hipótese segue a tradição e afirma que Jesus morreu na sexta-feira. Essa é a interpretação tradicional que a Igreja tem perpetuado por séculos. Nessa hipótese, o que foi usado foi a “contagem inclusiva”, método comum na Antiguidade, segundo o qual se contava tanto o dia (ou mês ou ano), no qual começava um período, quanto o dia que terminava, não importando quão pequena fosse a fração desse dia (ou mês ou ano) – inicial ou final. Por exemplo:
- Uma criança nascida em 15/12/1995, ao chegar o dia 31/12/1995 teria um ano ao invés de quinze dias de vida para os judeus; a partir de 01/01/1996 ela já teria dois anos, embora só tivesse dezessete dias de vida após o seu nascimento, porque ela já estaria no segundo ano do seu nascimento (nasceu em 1995 ao virar para 1996 – eles contariam dois anos).
- Em 2 Reis 18.9-10 está escrito: “No quarto ano do reinado do rei Ezequias, o sétimo ano do reinado de Oséias, filho de Elá, rei de Israel, Salmaneser, rei da Assíria, marchou contra Samaria e a cercou. Ao fim de três anos, os assírios a tomaram. Assim a cidade foi conquistada no sexto ano do reinado de Ezequias, o nono ano do reinado de Oséias, rei de Israel”. Note que o rei da Assíria subiu contra Samaria no 4º ano de Ezequias e a tomou no 6º. Hoje faríamos os seguintes cálculos (6-4 = 2 anos), sendo assim, diríamos que levou dois anos para conquistar Samaria. Porém no texto bíblico está expressa a contagem inclusiva, tendo considerado os anos 4º, 5º e o 6º, e, por isso, o texto fala em três anos.
- Alguns textos mencionam períodos de “três dias” que se concluíram DURANTE o terceiro dia e não DEPOIS do terceiro dia. Gênesis 42.17,18 “E os meteu juntos em prisão três dias. Ao terceiro dia, disse-lhes José: Fazei o seguinte e vivereis, pois temo a Deus”; 1 Reis 12.5,12 “Ele lhes respondeu: Ide-vos e, após três dias, voltai a mim. E o povo se foi. Veio, pois, Jeroboão e todo o povo, ao terceiro dia, a Roboão, como o rei lhes ordenara, dizendo: Voltai a mim ao terceiro dia.”
De acordo com Martins (2011, p. 119), há vários exemplos desta “contagem inclusiva”, não somente entre os judeus, mas também entre outros povos. Esse sistema era comum no Egito, Grécia e Roma, ainda é usado no Extremo Oriente. Por exemplo, um coreano que diz ter 25 anos de idade, tem na verdade 24 de acordo com a contagem ocidental. De acordo com o cômputo chinês, um menino que nasce na última parte do ano tem dois anos no ano seguinte, pois está vivendo o segundo ano de sua vida, conforme o calendário. e no começo do ano seguinte completará três anos de vida mesmo que só um desses anos seja um ano completo de 365 dias. Os gregos chamavam a Olimpíada, que se realizava de quatro em quatro anos, de PENTAETERIS (período de cinco anos).
De acordo com essa visão oriental, os ouvintes de Jesus contaram os três dias de forma sucessiva: sexta-feira, sábado e domingo. De acordo com o Rabi Eleazar Bar Azaria (100 d.C): “um dia e uma noite fazem um ‘yom’ (24 horas), mas um ‘yom’ começado, vale um ‘yom’ inteiro”. O talmude de Jerusalém, também concorda: “Temos um ensino: um dia e uma noite são um Onah e a parte de um Onah é como o total dele” (Mishnah, Tractate, “J. Shabbath”, Capítulo IX, Parte 3).
Jesus morreu na sexta-feira (contagem espiritualizada)
Surgiu no século XX uma terceira hipótese. O significado de três dias e três noites não se referia ao tempo que Jesus ficou na sepultura. De acordo com essa interpretação, Jesus não começou a sofrer pelos pecados do mundo quando estava na cruz. O sofrimento começou no Jardim do Getsêmani, na quinta-feira. Jesus foi levado de um lugar para o outro, espancado e surrado. Ele passou de Pilatos a Herodes e novamente a Pilatos. Ele passou de Caifás para Anás e voltou para casa de Caifás. Ele estava sofrendo em todo o lugar, durante todo o período. De acordo com essa visão, Jesus era um cativo do diabo da mesma forma que Jonas foi cativo do grande peixe. Nesse ambiente escuro e sem esperança por três dias e três noites, da mesma forma que Jesus esteve nas garras do mundo perdido, por três dias e três noites. De quinta-feira à noite até o domingo de madrugada ele estava tomando a pena pelos nossos pecados, que é o castigo e a morte; não só a morte. Para esse grupo, o mal-entendido está justamente aqui, não teria nada a ver com o túmulo em si, mas com todo o sofrimento de Jesus.
No entanto, essa interpretação foge completamente do entedimento dos discípulos. A mensagem que os apóstolos pregaram, tais como Paulo, Pedro e os demais, sempre enfatizaram a ressurreição ao terceiro dia, deixando a tumba vazia. Os três dias estão relacionados de fato ao tempo que Jesus ficou na sepultura.
Entre as três hipóteses, a mais aceita pela igreja é a de que Jesus morreu na sexta-feira, embora a hipótese da quarta-feira seja a mais racional. Contudo, o que importa é que JESUS RESSUSCITOU, independentemente de qual seja a hipótese da contagem dos dias. Jesus vive e sua Palavra se cumpriu. Glória a Deus, Aleluia!
REFERÊNCIAS
MacDonald, W. Comentário Bíblico Popular: Novo Testamento. 2. ed. São Paulo: Mundo Cristão, 2011.
MARTINS, Jaziel Guerreiro. Como entender os textos mais polêmicos da Bíblia – Evangelhos Sinóticos. Curitiba: A.D. Santos, 2011.
Strong, J. Léxico Hebraico, Aramaico e Grego de Strong. Sociedade Bíblica do Brasil, 2002.